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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

. [1] O que está acontecendo?

"Querido Kiko,

Escrevo de um lugar desconhecido.
Acordei e não estava mais em casa. Estou um pouco assustada como nada me é familiar.
Na verdade, já tentei contactar minha família, mas o telefone está mudo.
O celular não liga, o telefone convencional muito menos.
Acordei no caos.
Olho pela janela do apartamento em que me encontro e vejo muitas pessoas vagando.
Um silêncio perturbador toma conta da rua. Uma rua desconhecida.
Escrevo para desabafar.
E para conter as lágrimas.
Levantei do sofá, caminhei pelos outros cômodos, mas não há ninguém.
Estou com medo de ir para rua.
As pessoas estão agindo de maneira estranha.
Mudas. Sonâmbulas.
Não entendo o que está acontecendo. 
Já me belisquei e esfreguei meus olhos, e toda vez que torno à abri-los, a paisagem 
é a mesma.
Estranha.
Como pode? 
Há um momento atrás, um momento que eu não consigo precisar, a minha vida era normal.
Quer dizer...errr, bem, defina "normal".
Eu acordava, tinha café da manhã na mesa, cachorro pulando em minhas pernas. Tinha até um irmão chato me pentelhando e uma escola pronta à me receber de braços abertos. 
Escola? Argh.
Último ano, último mês, ah, quanta pressão!
Eu, que mal sei quem sou e de repente, assim, preciso decidir meu futuro.
Vestibular, grande palhaçada...
Será que essa minha atual realidade é tão ruim assim?
(...)
(...)
Tô brincando Kiko. Precisava descontrair um pouco.
Isso aqui tá tragicômico.
Não tenho mais a vida de ontem ( ou de há um segundo, vai saber) mas também não pertenço à essa aqui.
Meu Deus, como vim parar aqui?
O que está acontecendo?
Ai...
Essas lágrimas...
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)

Kiko.......
....................................
Preciso ir....

Sair, talvez?
Voltei a ter medo. Muito.
Preciso parar de escrever agora.


Torça por mim.
Ainda te envio essa carta.

Um beijo,

Catarina Lumiere."