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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

. Uma garota e um livro

Eu estou aqui com o livreto introdutório à "Self Realization Fellowship". Decidi,por certo, que vou aprender a Kriya Yoga. Há alguns anos, "flerto" com os ensinamentos de Paramahansa Yogananda, mas ainda não tinha optado pela meditação.
Tenho uma história interessante, ou pelo menos inusitada sobre a forma como cheguei até o livro "Autobiografia de um iogue".
Era uma sexta-feira de 2007 e eu estava triste. Nenhuma grande novidade certo, quem nunca se sentiu triste na vida? Pois bem, eu estava bem chateada com o rumo da minha vida, com questões sentimentais, enfim, triste por algo que eu nem conseguia descrever direito. Nesse dia eu fui na casa da minha irmã visitá-la e acabei ficando até a noite. O marido dela tinha viajado e ela me chamou pra dormir lá, "Fica aqui Nessa, tá tarde pra voltar pra Santa Teresa. Aluguei um filme, a gente assiste e você dorme aqui. Amanhã vou em um centro espírita com uma amiga tomar passe, você não quer ir? Acordamos e vamos de manhã."
Aceitei o convite já que, de fato, estava tarde e eu não estava com vontade de planejar nada mesmo. Dormir lá e ir à um centro espírita no dia seguinte seria uma ótima opção para quem queria mais é sumir. Parecia até um sinal de ajuda. Quem sabe, não?
Fomos assistir o filme. A minha irmã tinha dito que era um filme diferente, que explicava a forma como nossos pensamentos moldavam nós mesmos, a nossa vida. Se chamava "Quem Somos Nós" e não é que era um filme sensacional?
Tinha tanta novidade ali que eu fiquei meio tonta, fiquei extasiada com a explicação metafísica da nossa existência. Pela primeira vez, consegui entender a divindade, a humanidade e a materialidade como uma coisa só. Energia. É tudo energia.
Enfim, fui dormir mais animada com o que pareceu ser pra mim uma portinha abrindo ali no final de um túnel escuro, muito escuro.
No dia seguinte, acordamos e fomos para o centro espírita. Minha irmã disse: "Vamos encontrar a minha amiga e seguimos então para o Frei Luiz". Já tinha ouvido o nome desse centro, mas nunca tinha ido. Que lugar enorme!
Chegando lá fomos encaminhadas para uma fila para tomar passe. Não lembro muito bem em que "área", se assim posso dizer, eu entrei, mas é que tinham umas separações para tomar passe. Várias casinhas diferentes, finalidades diferentes, creio eu. Tem tempo isso e a minha memória é um tanto quanto falha, rs, grandes detalhes não vou lembrar.
O fato é que entrei na fila que me mandaram ficar até me chamarem. Quando entrei, vi que estava em um quarto grande, mais parecia uma sala na verdade, com uma luz muito fraca, era quase escuro ali. Tinham os médiuns dando o passe, a maioria dava em pé, alguns ficavam em camas, mas a maioria era em pé.
Já fui a vários centros espíritas, sempre de forma esporádica e levada por alguém. Eu nunca me decidi por ir aos centros, mas volta e meia acontecia uma situação e quando eu percebia lá estava eu. Tenho algumas experiências, digamos, hmm...estranhas, ou estranhas para mim, não sei. Lembro de sempre alguém me falar algo específico, de me olhar com um brilho diferente, quase como se me conhecesse ou me "lesse". Não sei dizer, só sei que na maioria das vezes EU me sentia estranha antes do passe, da conversa, o que quer que fosse. Ou minha mão suava, ou eu ficava nervosa sei lá por quê, e não raro eu chorava. Me incomodava, era um mix de sensações que eu não sabia entender ou explicar, só sentir, e transbordava, explodia. Era estranho e desconfortável. Me sentia boba e culpada por me sentir mal em um lugar que eu deveria me sentir bem. Assustada. Mas sempre passava. Conversavam comigo, davam o passe, me falavam coisas que hmm... coisas que eu ainda não sei explicar.
Bem, voltando ao passe, já que desvirtuei da história, fui eu então tomar o bendito passe. Em um determinado momento ele ( ou ela, juro que não sei) apontou para o meu estômago e disse: "Você tem que tomar cuidado aí, não é? Senão pode ter doença. Mas você já sabe disso, não é?" Claro que eu sabia. Eu tinha tido várias visitas ao gastrologista, já tinha tratado muito da minha gastrite que me fez passar noites em claro, vomitar, me tirar do sério. Mas o que me marcou mesmo foi quando eu saí de lá. O médium não falou muito, falou basicamente isso. Na saída do passe conversando com a minha irmã sobre as impressões do lugar e ela contando as dela, me dei conta do quão curiosa era a figura do médium.
Como disse antes, o lugar era meio escuro, então não sei em que momento do passe eu me perdi pra não saber dizer se estava falando com um homem ou uma mulher. Sei que a pessoa tinha cabelos nos ombros, escuros e ondulados, a pele morena e uma feição que me lembrou um índio. Ou, hmm, um indiano.
Voltamos para a casa da minha irmã e eu já me sentia fisicamente, emocionalmente, espiritualmente beeem melhor. Fui no quarto dela aleatoriamente e comecei a olhar a estante de livros, sei lá, pra me distrair. Vi muitos códigos, livros de direito e de repente, eis que um livro me chama a atenção. Era um livro com um fundo laranja e um rapaz moreno, um rapaz que me lembrou o médium que me atendeu no Frei Luiz. Era um indiano e o livro era a a história da sua vida, a "Autobiografia de um iogue". Em um impulso e naquela sensação de "Eureka!" retirei o livro da estante e fui até a sala.
"Aleca, esse livro aqui, posso ler?" E a minha irmã: "Claro, eu te empresto, esse livro é sensacional, Tio Juca que me emprestou, você precisa ler". Lembro da minha irmã ter comentado sobre ele, mas eu nunca dei muita bola. A partir dali a minha percepção da vida começou a mudar. O filme que eu assisti, seguido de outros filmes, do livro do Paramahansa e outras leituras começaram a me abrir um universo de possibilidades que eu desconhecia até então. O livro foi divisor de águas para a minha vida, isso eu falo de coração, com muita certeza. Fiquei aficcionada, falava sobre ele com a minha terapeuta, meu pai, minha irmã.
Uma vez falando com a minha irmã no telefone sobre a "Autobiografia de um iogue", muito empolgada diga-se de passagem, ela me disse a frase que resumiu tudo que eu estava sentindo. Com uma serenidade de quem sabe do que fala, ela me disse: "Parabéns Nessa, você acaba de sair do viver automático, agora você vai começar a viver a sua vida conscientemente."
Mágico. Começou então uma caminhada amparada por idéias que simplesmente clicam, não importa a religião ou a forma. Elas fazem sentido. E tá só começando. Como disse, vou passar para a fase que eu tanto li no livro, a da meditação, da kriya ioga. Bem, ela ainda vai demorar porque é necessário uma preparação de um ano, de estudo. Enfim, vamos ver o que acontece!
By the way, esse dia que eu fui "atraída" pelo livro foi no dia 04 de março de 2007, o dia do meu aniversário.