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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

. Sobre "A Árvore da Vida" [ Cuidado: contém Spoiler]

Há algum tempo vinha ouvindo o burburinho em torno do filme do diretor Terrence Malick, A Árvore da Vida. Confesso que até o seu lançamento, não tinha ouvido falar nele.
O mesmo digo do filme que percebi que era polêmico. Mais da metade das pessoas que assistiram que eu tive contato, não gostaram. O resto tinha amado. E pelo que eu tinha ouvido, a crítica também aplaudiu.

Quando existe essa divisão de opiniões, eu fico ainda mais intrigada e curiosa pra ver um filme. 

Pois bem, lá fui eu assistí-lo. Já estava preparada para o que deveria ser um filme diferente, louco, e fora do padrão, como tinha ouvido e lido por aí.
Minha mãe resolveu me acompanhar e naturalmente, a adverti do que nos esperava, afinal, ouvi relatos de pessoas que deixaram o cinema antes do filme acabar, gente que odiou etc, etc, etc.

Nada que fosse me surpreender, eu supus.

Porque quando eu entro na sala de exibição, rapaz, eu fico até o fim. Não há capeta que me arranque de lá. O filme pode ser a pior bosta do mundo que eu vou assistir tu-di-nho.
Sou da filosofia "ah, agora que eu estou aqui, quero saber como termina essa bagaça!".
E encaro, qualquer coisa. Filme sangrento, terror, comédia, drama, de virar o estômago, qualquer coisa mes-mo, porque se eu me dispus a sentar naquela cadeira é porque eu quero entender o que tá ali.

Mesmo se não há nada para ser entendido. Do contrário, eu nem vou.
Mas como a minha mãe é de outra filosofia, achei melhor avisar...

Enfim, filme começa e a quase falta de diálogos e trilha faz com que qualquer pequeno barulhinho de pipoca ou mexida na cadeira  incomode.
Tinha uma chica sentada na minha frente mais à esquerda que volta e meia virava com cara de brava.
Talvez o rapaz atrás dela estivesse batendo o pé em sua cadeira. 
Ou talvez fosse o barulho da pipoca ( que eu também comia despreocupadamente).

Foi interessante notar como as pessoas não estão acostumadas com esse tipo de narrativa. Pensando melhor, é natural até, já que é uma narrativa nada linear, diferente dos filmes que assistimos normalmente.
É um fragmentado de imagens, um mosaico, que apesar de ser construído de forma meio esquizofrênica, consegue passar a mensagem proposta.
É um tipo de narrativa, que pra mim é puxada da vídeo-arte. Lá então, o negócio é mais esquizofrênico ainda.
Lembrei de uma matéria que li por aí em que o Sean Penn dizia não entender o que seu personagem fazia no filme. E que a história que ele tinha lido no roteiro, era completamente diferente do produto final.

Fiquei me perguntando se o diretor já tinha essa idéia de montagem na cabeça ou se ele resolveu na ilha de edição dar uma roupagem inovadora ao seu roteiro ( ele escreveu e dirigiu).

Questionamentos à parte, aviso logo que curti.

O que penso que muitas pessoas podem não ter entendido ( além da  montagem e narrativa não usuais ) é que o lance principal desse filme não é a história.

Não, não é.

Ele coloca um exemplo de família, é um grupo genérico, que serve apenas para ilustrar uma mensagem.
A idéia é muito mais fazer as pessoas refletirem a maneira que nossos comportamentos, pensamentos e atitudes moldam a nós e a sociedade que construímos.
O que Malick propõe, em meio à todas as imagens espaciais, natureza, dinossauros, Brad Pitt e meninos problemáticos é que pensemos sobre nós, sobre como todo esse quadro está conectado.
Como tudo isso é uma energia só, Deus, ou como queira chamar.
E vou te contar, ele dá bastante tempo ao espectador para pensar, é quase como se ele nos obrigasse, nos sacudisse:

"Acordem, acordem! Vejam isso tudo! Vejam essa criação imensa e divina. Agora olhem para a vida de vocês, olhem como podemos entender tudo errado. ACORDEM, é hora de acreditar, de mudar."

A sequência de imagens intermináveis, não é à toa, muito menos aleatória. É o desejo dele de nos tirar do lugar comum, confortáveis em nossas cadeiras e refletir. 

Sim, durante o filme.


Essa é a grande sacada que nem todos enxergam.
Ou por não quererem, ou por estarem automatizados e sonâmbulos, ou por serem resistentes ao novo, ou por não estarem preparados mesmo. O que acaba dando no mesmo.
Provavelmente muita gente foi achando que era um filme "normal" com Sean Penn e Brad Pitt. E pow, se depararam com uma "alucinação incompreensível de um cara maluco".

Agora, te digo que se você abrir um pouco o raio de compreensão da sua mente, das suas verdades que toma como absolutas, aí sim conseguirá compreender melhor o que está na tela.

By the way, observei que não houve debandada da galera na sala de cinema que eu estava. Naturalmente, muitos não gostaram, mas ficaram até o fim.

Minha mãe, a princípio, achou o filme "parado" e ficou um pouco frustrada porque, no dia anterior, ela tinha visto outro filme nesse mesmo estilo: "parado".

Mas depois que conversamos, ela entendeu melhor.


Não entendi cada pedacinho do filme não, como alguns trechos do final entre outros momentos. Mas como disse, não me foquei tanto nisso, porque realmente compreendi que esse é o tipo de filme para refletir, não para se distrair. Se você entendeu a idéia geral, já tá ótimo.

E tenho a sensação de que, daqui pra frente, ainda veremos muitos outros filmes nesse estilo.


Tomara.