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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

. Prisões pessoais

Um dos videoclipes que eu acho mais forte do Killers é o "Dustland Fairytale". Ele conta a história de um cara que quando jovem( lá pela década de 60) se meteu em uma briga de gangue, matou o rival e foi preso. Passou boa parte da existência na cadeia e quando é solto ( bem mais velho, por volta de seus 60 anos ao que parece)vai atrás do seu amor de juventude. Aquele amor que ficou naquele mesmo passado que virou seu presente por toda uma vida.
No meio desse caminho, ele revê sua juventude e o erro que o fez passar a vida na cadeia.

"Passar a vida na cadeia".

Quando páro para pensar nessa frase, quando realmente páro para divagar sobre isso, me dá um medo enorme. Penso no quão poderoso nossos atos podem ser, no tanto que um deslize de comportamento, uma frase mal dita pode nos levar a um desvio de trajeto de vida, a um resultado que sequer imaginamos algum dia em nossas vidas.
Naturalmente, fazemos o tempo todo escolhas diárias, mas o quanto pensamos sobre como essas atitudes vão influenciar nosso presente, alterar o nosso futuro?
Se são coisas de grande magnitude, como por exemplo, escolher qual curso fazer na faculdade, ou se devemos estudar fora, refletimos bastante sobre qual caminho tomar.
Mas quando damos aquele fora em uma pessoa que amamos, ou quando escolhemos sair cinco minutos mais tarde de casa, resultando na perda do ônibus do trabalho, dificilmente raciocinamos as reais consequências dessa nossa escolha.
O ser humano é tão psicologicamente complexo que às vezes uma palavra ou atitude que para você parece boba e insignificante, para o outro lado chega como uma avalanche destrutiva.

E raramente pensamos nisso.

Fazendo uma analogia com a história do videoclipe, fico me perguntando, o quanto com o passar dos anos, não nos aprisionamos em atitudes passadas, em vícios pessoais maléficos, em quanto deixamos para trás quando resolvemos pegar a estrada da esquerda. O quanto podemos estagnar ao não nos permitirmos mudanças. Mudanças de comportamento, mudanças nas nossas atitudes, mudanças de pensamento. No final é tudo a mesma coisa, mas é essa resistência à mudanças que nos mantém escravos de uma vida que não queremos, que nos aprisiona em situações que já vimos milhares de vezes ( e que não gostamos de passar).

Ainda não cheguei lá, mas fico me perguntando como será comigo quando eu chegar na idade do cara que foi preso e olhar para trás, quando eu rever toda a minha vida como um videoclipe. Como será que aquelas pessoas, aquelas amizades que ficaram pelo caminho estarão, para onde os amores mal-resolvidos terão ido?
Em que momento estarão vivendo as pessoas marcantes da sua vida que, por alguma atitude sua ( ou delas), saíram pela porta da frente e te deixaram olhando-as se afastarem mais e mais?
A história do clipe é uma metáfora forte de como nossas atitudes, quando são mal empregadas, são capazes de deixar profundas marcas, de traumatizar, calejar.
No fim das contas, viver é isso, aprender com os erros, crescer na dor, porque, curiosamente, é na dor que conseguimos progredir, superar. E para isso, as marcas precisam permanecer, precisam existir para você se lembrar como chegou ali.
De qualquer forma, essas marcas doem. Virar gente grande não é uma tarefa das mais fáceis. Com o tempo tendemos a nos proteger mais, ficar na defensiva para evitar um sofrimento já visto.
Funciona, de fato. E é desse fato de nos protegermos, de evitarmos uma situação já vista que não agradou, que crescemos e mudamos. Mas também nos tornamos menos ingênuos e um pouco menos crédulos, características lindas da infância, onde somos completamente abertos e crentes de tudo e de todos.
Se olharmos por esse prisma crescer pode ser um pouco triste, já que perdemos a nossa espontaneidade infantil, mas também nos tornamos pessoas mais saudáveis ao colocarmos certos limites, nos respeitamos mais quando dizemos um "não" para algo que nos faz mal.
De qualquer forma, acho que é pontual lembrarmos como o curso de nossas vidas pode mudar completamente a partir de nossas atitudes no trabalho, no círculo de amizades, nos relacionamentos amorosos, na família e conosco.
Trazer os atos do inconsciente para o consciente é uma tarefa dura, mas necessária, para cada vez mais, com o passar dos anos, termos um número maior de situações boas para rever quando olharmos para trás. Para que, um dia, quando o tal do videoclipe passar por nós, a gente tenha mais motivos para ficar feliz do que triste.
Os fantasmas vão existir, eles são importantes para o progresso pessoal, mas dessa vez, é melhor que eles fiquem na prisão, não a gente.



Enfim, acho que já divaguei bastante. Espero ter confundido bastante a cabeça de quem leu isso aqui =)

Ah, claro, o tal videoclipe que me fez pensar nisso tudo:

The Killers - A Dustland Fairytale
http://www.youtube.com/watch?v=-3hyrkzFRss&feature=channel