Dia-a- dia, todo dia é uma nova batalha que se inicia.
Acorda. Levanta da cama. Lava o rosto. Uma xícara de café. Trabalho.
Trabalho. E mais, muito mais trabalho. No meio de tanta confusão e correria, o segundo que se pára para pensar na vida é um momento angustiante. Mas muito precioso.
A gente não sabe mais pensar na vida, na maior parte do tempo estamos tão imersos nas nossas atividades rotineiras que parece que nem alma temos.
Às vezes me sinto assim. Na verdade, muita das vezes.
E a nossa preocupação em fazer as coisas direito, executar um bom trabalho, escolher bem os produtos que iremos comprar no supermercado ou as roupas que vamos vestir, tudo, tudo nos deixa conectado com esse mundo palpável, físico. Olhando por esse prisma, a idéia de sermos meros fantoches não me soa nada mal.
E somos capazes de viver nossas vidinhas fúteis anos a fio sem criarmos uma consciência perante ela. Muitos de nós sentem-se amarrados à um destino que não escolheram e acreditam que o percurso pouco pode ser mudado. É a vivencia de uma existência automática, sem reflexão ou análise. Sem olhar para dentro. Sim, sem olhar para o seu interior pois é de lá que vem tudo.
E como é difícil esse exercício. Mesmo para os iniciados, olhar para dentro, fazer uma auto-analise, ter a consciência de que podemos mudar tudo aquilo que nos incomoda é um processo muito, muito doloroso. Altamente enriquecedor, que nos faz crescer e alcançar as coisas que desejamos, mas que é incômodo e angustiante. Não por acaso, alguns acabam ficando pelo meio do caminho e passam a culpar as situações exteriores pelo seu fracasso. Fracasso material, profissional, amoroso, mas acima de tudo fracasso interior.
Tenho a impressão de que quando passamos por uma situação em que estamos sendo altamente pressionados lembramos com mais afinco que temos sentimentos, que nos sentimos frágeis, que somos sim, seres humanos e não meros fantoches vivendo como formigas, automatizadas, cegas pelo processo de sobrevivência, vivendo sem saber muito bem o porquê, nem o pra quê.
Hoje pude lembrar, que no meio de tantas ações, tantas noitadas, almoços, conversas, cinemas, andadas de ônibus, fofocas, cafés da manhã, pagamento de contas, ainda sou um ser humano. O momento que você leva aquele tapa na cara que você jamais esperou, é o momento mais deseperador e também o mais clarividente.
Levei uma porrada que doeu, que me desestruturou, eu fiquei…triste, sem chão. E é claro que eu não gosto de me sentir assim. A sensação de não pertencimento a lugar algum ainda me aflige e sinto-me perdida. A vontade é pedir colo e sumir. Dá um stop na correria, posso não existir por algumas horas? Só um pouquinho, viver o nada, sentir o nada. O processo está acontecendo e o bom é que voltei a lembrar que sou um ser humano e não uma máquina. Se eu me condeno pela minha reação? Certeza que sim, mas estou aprendendo a conviver com a frustração. Estou desapontada com a situação e com o meu comportamento. Se pelo menos eu pudesse por um momento sumir, eu seria mais feliz.
Mas daí eu lembro das palavras do meu pai, respiro fundo e tento, novamente buscar uma solução. Não quero me desapontar. Eu mereço isso. Dói sim, quando passo por essas porradas quero como nunca, achar meu lugar no mundo e aí que a angústia cresce ainda mais. Eu vou chegar lá. Não sei ainda como, mas vou. Por enquanto vou vivendo um dia de cada vez, resolvendo as pendengas do dia-a-dia, lendo o cartão mais bonito que já recebi. Um cartão que esperei por tantos anos… valeu a espera. E é com essa mesma paciência que eu esperarei a resolução desse enigma pessoal. Acho legal transcrever o cartão que mais me inspira ultimamente. As melhores palavras de conforto. Ganhei no Natal. E pra mim, foi o maior presente que já ganhei dele em 26 anos de existência. Só eu sei o quanto esperei por esse cartão…
“ Vanessa,
A minha caçulinha querida. Talento.Escritora inata. Um dia isto irá aflorar. Estou muito feliz e orgulhoso de você. Admiro sua fibra e determinação. Tenho admiração por você. Espero que seja muito feliz e que a vida te dê tudo, que no seu coração você fará pelos outros.
Gosto de você um tantão assim!
Obrigado por ser minha filha!
Te amo.
Papai.
Natal, 2009”
Espero não o desapontar.